segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Informe da premiação da Ifoam.


É com muita alegria e carinho que encaminho aos amigos da Dra Ana Primavesi o informe da premiação da Ifoam. O link encontra-se na página de Prêmios do menu.

Como ela sempre diz, ninguém faz nada sozinho, e acredito que cada um, a seu modo, tem um pedacinho desse prêmio tb. Parabéns a todos vcs que fizeram e fazem parte dessa construção.

Um beijo

Virgínia

terça-feira, 26 de junho de 2012

Um artigo de Tânia Rabello sobre Dr. Ana Primavesi



Um artigo postado por Tânia Rabello (foto com a Dr. Ana Primavesi) no blog:
http://organicosbrasil.wordpress.com/2012/02/28/para-quem-vender-o-sitio-de-dona-ana-primavesi/

Para achar a foto acima, tive de abrir um velho arquivo de aço, movimentar várias pastas, em três gavetas, até encontrar um bloco de plásticos próprios para aconcidionar slides. São duas fotos bem parecidas (achei que era uma só) e já estão para completar a maioridade plena, 21 anos: foram feitas pelo fotógrafo Kim-Ir-Sen, em 11 de abril de 1991, quando eu era repórter “foca” no “Guia Rural”, da Editora Abril, revista deliciosa de trabalhar, mas que infelizmente não durou nem dez anos. Estamos ali, na foto, eu, repórter iniciante, praticamente recém-formada, prestes a completar 25 anos. E dona Ana Primavesi, então com 71 anos, vigorosa, andar decidido, animada e senhora de um sítio muito especial em Itaí, município a 300 quilômetros de São Paulo, cujo acesso se dá pela Rodovia Castelo Branco, às margens da Represa de Jurumirim.


Nunca mais voltei lá. A única lembrança que tenho do sítio é justamente esta: as fotografias. Nem me lembro ao certo que reportagem havia sido escalada para fazer naquele dia com dona Ana Primavesi, que também era, aliás, colunista da revista. Mas lembro de ter recebido uma grande aula sobre as conexões da natureza, das plantas com o solo, com o meio ambiente, com a vida. E de ter reafirmado minha certeza de que seria eternamente ligada a esses assuntos.

Hoje, aos 92 anos, dona Ana Primavesi me pergunta se eu me lembro do sítio. Respondo a ela que não, só lembro da boa energia que trouxe daquela viagem. E ela me fala, com voz baixa e pausada, que a área é como um oásis rodeado do pasto das outras propriedades. Com os bons tratos que deu ao solo, eliminando terríveis voçorocas, e com o reflorestamento de algumas áreas, novas nascentes foram brotando ao longo dos anos. São cinco ao todo. “Basta cuidar bem do solo e do meio ambiente que a natureza responde”, lembro que ela me disse, em outra entrevista, há cerca de três anos, desta vez para o também extinto “Suplemento Agrícola”, do Estadão – que raios, será que veículos que cobrem a agricultura neste País nascem já com pena de morte decretada?

E, ainda naquela entrevista, arrematou: “Eu garanto que os cultivos orgânicos têm todas as condições de alimentar a humanidade. Era assim que o mundo se alimentava até a chegada da Revolução Verde. São tão produtivos quanto uma lavoura convencional e ainda preservam o solo. Um solo no qual a vida é preservada responde bem a qualquer cultivo.” Fico imaginando quantas vezes ela repetiu este mantra ao longo da sua vida e para que quantidade de gente. Resposta para as duas perguntas: infinitas e infinitas.

Dona Ana Primavesi, austríaca de nascimento mas com certeza uma cidadã do mundo, pelos seus ensinamentos e viagens aos cinco continentes para difundir a importância de preservação da vida do solo e dos cultivos orgânicos – em contraposição a todo o pacote tecnológico da Revolução Verde -, já não está mais morando no sítio. Resistiu por ali até 25 de janeiro deste ano, quando a família achou por bem trazê-la para São Paulo, no bairro do Campo Belo, onde mora sua filha, Carin. Uma casa ampla, com um grande quintal no fundo. Brinco com dona Ana Primavesi: “A senhora não vai resistir e logo vai tirar o gramado aí de trás para plantar um feijãozinho orgânico.” Ela sorri. E conta que, com sua saída do sítio de 96 hectares, por questões mais de idade do que de saúde, onde morou por 32 anos, todo o maquinário e o gado que mantinha ali já foram vendidos. Os piquetes e água para cada um deles, transportada morro acima com a energia limpa de uma roda d’água, não foram desfeitos. Uma lavoura de café ainda viceja, cuidada por um vizinho, e, na safra, atrai compradores da região, em busca de um café de altíssima qualidade. “Quem compra o café diz que a bebida tem um sabor especial”, arremata Carin, que nos acompanha na entrevista neste dia, na casa no Campo Belo. “Dizem que é melhor do que o café de terra roxa.”

Do sítio, além de saudade, dona Ana Primavesi trouxe também sua coleção de miniaturas de elefantes, ampliada a cada viagem à África, e uma respeitável biblioteca sobre agricultura orgânica, solos, agronomia e assuntos afins e afora. Todos os livros foram doados para a Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo, que agora busca um espaço no Parque da Água Branca, na capital, para instalar a biblioteca. Carin não sabe dizer quantos livros foram doados pela mãe. Mas diz que dois caminhões cheios saíram de Itaí.

Assim como dona Ana evita entrar no assunto, que não lhe agrada especialmente, eu também pareço estar adiando o inevitável. Mas é isso. Vamos à questão: agora, o sítio da senhora que pode ser considerada a precursora do movimento orgânico no Brasil está à venda. A grande questão é: para quem vender um sítio tão precioso, de grande valor histórico e ambiental? Para quem vender uma propriedade que foi utilizada por dona Ana como laboratório vivo, para provar que a natureza, bem preservada, dá conta de garantir o sustento da humanidade? Para quem vender uma propriedade onde gerações de estudiosos e produtores tanto aprenderam sobre cultivo orgânico, solos e preservação ambiental? A família vê-se no direito de escolher um comprador para o sítio. Não vai vender para qualquer pessoa, que pode destruir todo esse patrimônio ambiental e agronômico.

Para tentar achar uma solução para a questão, nesta próxima sexta-feira, dia 2 de março,  um grupo de pessoas ligadas ao movimento orgânico no País vai se reunir na casa de dona Ana Primavesi. “Várias cabeças pensam melhor do que uma”, diz dona Ana, reafirmando a vocação para a preservação da biodiversidade. Entre as soluções aventadas, tentar encontrar algum grande empresário com mentalidade preservacionista, que transforme a área em polo difusor de ecologia. Ou algum grande produtor orgânico, que mantenha a linha adotada por dona Ana nesses anos todos. Sugestões são bem-vindas. E podem ser enviadas para os comentários deste blog.

Dr. Ana Primavesi




A compleição franzina, a voz mansa com pronunciado sotaque - apesar dos seus quase 60 anos no Brasil -, quase conseguem dissimular o vigor e a capacidade crítica de uma das mais respeitadas defensoras da agricultura orgânica na atualidade. Quase, pois a austríaca Ana Primavesi não dá tréguas à chamada agricultura convencional que, para ela, “é a arte de explorar solos mortos”. Em suas andanças pelo mundo, quando lhe perguntam sobre problemas relacionados à produtividade da lavoura, ela invariavelmente responde: “Olhe a raiz. É nela que você descobre o que a planta está sentindo”. É dela também a frase: “Se a planta está doente, procure saber o que causou a doença antes de tentar curá-la”.

Nascida de uma família de agricultores no vilarejo de St.Georgen Ob Judenburg, no sul da Áustria, Ana Primavesi cursou Agronomia em Viena e casou-se com um colega de profissão. No final da segunda guerra, quando os soviéticos ocuparam parte do país e começaram a confiscar as propriedades rurais, decidiram vir para o Brasil. Desde aquela época Ana Primavesi já contestava as técnicas estabelecidas, procurando se orientar pelos sinais que o solo oferece. Ela esteve em Macaé recentemente para proferir palestra durante a Feira Macaé Sempre Verde, a convite da revista Visão Social e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Para diagnosticar problemas do solo. a Dra. Ana ainda utiliza técnicas milenares, como cheirar a terra para saber se a matéria orgânica foi enterrada profundamente e sentir entre as mãos sua textura como indicativo do equilíbrio de nutrientes. Por isso, afirma que a agronomia que pratica “não compete com as leis da natureza”, sendo considerada uma das pioneiras da agroecologia no país, ciência que leva em conta o restabelecimento ou a conservação do solo permeável protegido por uma vegetação diversificada. Ou seja, extrair dos recursos naturais as condições ideais para o desenvolvimento das lavouras.

Matando o solo para preservar a indústria

Para Dra. Ana, os métodos de cultivo da terra em 1945 eram mais avançados se comparados aos dos dias de hoje, porque os homens não tinham optado pela monocultura. “O plantio único nos trouxe uma avalanche de doenças aplacadas por agrotóxicos”, sentencia. E complementa: “O adubo químico é basicamente formado por três elementos e a planta necessita de 45”.
Suas palestras na América Latina, Europa e Ásia causam furor, principalmente quando aborda criticamente a chamada “revolução verde” que, segundo os defensores da agricultura convencional (ou química), garantiria alimentação para as próximas décadas. “Na verdade – diz Dra. Ana – a agricultura química sacrifica a terra e a água. Com ela a terra só produz de sete a oito anos, depois morre. E será preciso despejar toneladas de produtos para produzir um alimento pobre em proteínas, como acontece nos Estados Unidos”.

Para a agrônoma, a “revolução verde” não foi feita para produzir mais; ela foi feita para salvar a indústria norte-americana do pós-guerra. “Eles falaram nessa ‘revolução’ porque queriam vender para a agricultura as máquinas e os produtos químicos que sobraram. Logo depois da guerra, a indústria norte-americana tinha estoques enormes de substâncias venenosas feitas para matar o inimigo. Eles usaram, por exemplo, o fósforo sobre a população civil e é uma coisa horrível. A pessoa que recebe fósforo pingado começa a se desidratar e diminui de tamanho, sentindo dores tão fortes que só pensa em se matar”.

Ana Primavesi e o educador indígena Kaká Werá




Ana Primavesi e o educador indígena Kaká Werá 
defendem novas formas de relação com o solo:

Quando se aposentou, anos atrás, a agrônoma Ana Primavesi, 90 anos, comprou um sítio na pequena Itaí, interior de São Paulo, a 300 km da capital. Após quatro décadas lecionando na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a precursora da agroecologia no Brasil quis voltar às origens de seus antepassados, agricultores austríacos. “Aqui pude criar uma relação mais íntima com a terra.” Em seu refúgio espremido por fazendas de plantação de cana-de-açúcar, Ana recebeu o educador e escritor indígena Kaká Werá, 46 anos, para o quinto encontro entre homenageados do Prêmio Trip Transformadores 2010.


Claus Lehmann

Kaká Werá, índio nascido na cidade, faz a ponte entre os dois mundos

No sítio de Itaí, Ana e Kaká defenderam uma nova relação com o solo, que ambos julgam estar ameaçado pelo crescimento desordenado das cidades, pela poluição do ar e das fontes de água doce, pelas grandes plantações de soja e milho e pelo uso indiscriminado de adubos químicos e agrotóxicos. “A terra tem capacidade de absorver até 400 ml de água da chuva por hora. Atualmente, só de 7 a 14 ml são absorvidos por hora. Está tudo duro, a terra foi destruída”, alerta Ana.

A professora passou a vida pregando formas mais saudáveis e sustentáveis de cultivo. Kaká conta que os índios tupinambás, quando fundavam uma aldeia, tinham um sistema de cultivo que alternava espécies e lugar de plantio. “Na região do Xingu, os camaurás plantam tudo junto, pois uma planta cuida da outra”, conta ele.

Descanso da terra

Ana passa o dia percorrendo as terras do sítio ao lado do velho pastor belga Pachá, que não deixa desconhecidos se aproximarem da dona. Os dois só se separam quando Ana viaja para ministrar palestras pelo país, normalmente sobre agroecologia, a importância de deixar a terra descansar e se recuperar para a nova semeadura.

Segundo ela, não é preciso usar adubos químicos nas plantações. “Se a terra está viva, produz cinco vezes mais do que a plantação convencional. Um teste simples é jogar água num monte de terra. Se a água sai turva, a terra está ruim; se sai limpa, é porque está viva. Os nutrientes estão agregados, o solo está arejado e está tudo bem. O solo saudável é rico em matéria orgânica. Uma planta bem alimentada resiste às pragas.”

Kaká Werá é um índio da etnia tapuia, cujos pais migraram do interior de Minas Gerais para a periferia de São Paulo, fugindo de fazendeiros: “Meus antepassados saíram da terra, vieram pra cidade grande e eu fiz o caminho de volta”, conta. Os krahôs (pronuncia-se craôs) o chamam de pahi (diz-se parrí), que quer dizer “ponte entre dois mundos”. O fato de ser um índio nascido no asfalto o torna capaz de se comunicar e transitar fácil nas duas culturas. Kaká usa isso a seu favor, dando palestras nas aldeias e cidades e promovendo o intercâmbio entre brancos e

Claus Lehmann

Fonte:

SABEDORIA QUE VEM DA TERRA



Agrônoma Dr. Ana Primavesi

Ela já passou dos 90 anos, não come açúcar há quatro décadas e bebe pouquíssima água (sempre natural), afinal “é só o que o corpo precisa”. Esses são apenas alguns dos segredos da agrônoma Ana Primavesi, que mesmo se aproximando do centenário mantém saúde e disposição para cuidar das plantações e viajar o mundo espalhando sua sabedoria e ensinamentos sobre cuidado com a terra e respeito à natureza.

Nascida na Áustria, ela se mudou com o marido para o Brasil após a Segunda Guerra e foi uma das pioneiras da agricultura ecológica no país. Hoje a Dr. Ana Primavesi é uma das profissionais mais respeitadas quando o assunto é compreender os sinais da terra e encontrar formas de aumentar a produção, sem devastar a natureza.

Com sua voz mansa e ainda carregada do sotaque austríaco, ela conversou com o EcoD e falou um pouco da sua relação com a terra e como precisamos encontrar um equilíbrio entre os interesses humanos e a manutenção da vida no planeta.

EcoDesenvolvimento.org: A senhora tem uma grande intimidade com a terra, cheira para saber se a matéria orgânica foi enterrada profundamente e sente sua textura entre as mãos como indicativo do equilíbrio de nutrientes. Qual a importância desse contato para a senhora?

Ana Primavesi: É a base de tudo, porque se você não sabe, não sente e não vê a terra, como vai fazer agricultura?

A senhora defende uma agronomia que, no seu modo de ver, “não compete com as leis da natureza”. É dessa forma, competindo com a natureza, que estamos produzindo alimentos hoje?


Não é que compete ou não compete. O problema é que se você planta de uma maneira diferente de como o planeta faz pode ser que você colha por mais alguns anos, mas depois a terra vai estar de tal maneira estragada que não produz mais quase nada, muito pouco. Agora vieram os adubos químicos, as máquinas e tudo isso para aumentar a produção. Mas olha, no ano 1200 depois de Cristo, as pessoas produziam na Índia quatro vezes mais do que se produz hoje. Então o adubo químico não foi a salvação, foi o que estragou o solo.

Por que esses métodos de cultivos aplicados antigamente eram mais avançados que os de hoje?

Não se trata de métodos, nós temos é que voltar a respeitar a natureza, porque se a gente não respeita tudo estraga e tudo está desaparecendo. Se eu faço uma agricultura só orgânica não resolve. Porque o orgânico é muito bonito, mas não é como a natureza faz. Você deixa muita coisa que a natureza faz de fora e o que queremos é colocar tudo no eixo de novo. A nossa agricultura atual é simplesmente para fazer a terra produzir apesar de toda a sua destruição. Um exemplo é a mata amazônica, que sofre uma catástrofe, porque eles começaram a desmatar sem pensar que ali tem só 3 cm de solo orgânico. Se hoje você for na Amazônia, vai ver que já tem grandes áreas abandonadas, não se usa nem mais para gado. Tem mato, mas a mata mesmo não volta. O que nos fizemos até agora foi só estragar e não recuperamos nada, porque a gente acha que melhora (com o uso dos novos métodos), mas o melhor sistema é sempre da natureza. Nós vivemos há 5 mil anos com a agricultura e antigamente a terra era muito mais produtiva. Pode ter certeza que onde tiver pesticida, a terra está estragada.

Ainda existe alguma de forma de consertar o estrago na Amazônia?

É complicado. A Amazônia levou milhões de anos para se formar e agora nos a estragamos com a máxima facilidade. Lá quase 80% dos solos é areia quase pura. Então é uma terra paupérrima e mesmo assim existe aquela mata bonita. A natureza conseguiu conciliar os fatores e fazer ali uma das matas mais frondosas do mundo.

O que pode ser feito em outras regiões para termos uma agricultura mais sustentável?

O sustentável é quando eu mantenho a terra agregada. Eu acho que a agricultura não pode ser industrializada, é preciso ter um contato com a terra. A maioria das pessoas procura por milagres, mas o único milagre é você ter contato com a terra e esse contato vai permitir que você produza bem. As pessoas abusam das máquinas e dos produtos, mas se a terra estiver toda estragada, não vai resolver nada.